O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,Nem sequer de tudo ou de nada:Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis,As paixões violentas por coisa nenhuma,Os amores intensos por o suposto alguém.Essas coisas todas -Essas e o que faz falta nelas eternamente -Tudo isso faz um cansaço,Este cansaço,Cansaço.Há sem dúvida quem ame o infinito,Há sem dúvida quem deseje o impossível,Há sem dúvida quem não queira nada -Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,Ou até se não puder ser... E o resultado?Para eles a vida vivida ou sonhada,Para eles o sonho sonhado ou vivido,Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...Para mim só um grande, um profundo,E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,Um supremíssimo cansaço.Íssimo, íssimo. íssimo,Cansaço...
Álvaro de Campos
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
O que há em mim é sobretudo cansaço
Etiquetas:
Álvaro de Campos,
Fernando Pessoa,
VR