Desde miúda que frequento o Chiado, por todas as razões e por nenhuma. Era ali que se encontravam as últimas novidades, pelo menos para mim, que naquela data contentava-me em ficar a olhar para as cores e texturas que estavam do lado de lá da montra.
Ao sábado de manhã as caminhadas pelo centro de Lisboa eram frequentes e o "nosso centro" começava na Sé, passava pela Baixa em direcção à Praça da Figueira e daí as opções eram várias, sendo a Rua do Carmo uma delas.
No Chiado tudo tinha um ar distinto, era a melhor montra de Lisboa.
O sábado anterior ao do dia 25 de Agosto de 1988 não era diferente dos anteriores.
Fomos cedo aos armazéns Grandela para escolher o compasso que iria utilizar nas próximas aulas de desenho. Entrámos e subimos no elegantíssimo elevador. Escolhi o que queria e fizemos o caminho de regresso a casa.
Esta foi a última vez que vi o Chiado que sempre conhecera.
Na madrugada de dia 25 o cheiro a queimado era insuportável, da janela de casa via-se o espesso fumo sobre um céu negro rasgado por um profundo e intenso laranja.
De manhã, passei no local e o cenário era "dantesco".
Entretanto o Chiado renasceu, de forma diferente naturalmente.
Nem melhor, nem pior, só diferente.
Para mim será sempre um Chiado encantado.